18 de jul. de 2007

Crise

Não quero dizer. Ou melhor (seria pior?), não! Não quero escrever!
Que estado de letargia é esse?
Em inglês, a palavra seria ‘numb’.
Mas, ah..., a nossa abrasileirada habilidade em criar palavras. Em dar novos contornos a velhos problemas. Em criar, sempre, uma explicação diferente para tudo.
Que estado de letargia é esse, eu me pergunto! Uma espécie de embriaguez, um doping moral. Ou melhor (é pior!), um doping amoral. Sem moral. Sem amor!
Entre crises e apagões, que palavra essa!
Entre propinas e mensalões! Que aberração criamos, meu Deus!
Entre acidentes, incidentes e explicações.
Aceleração? Crescimento? E quem disse que para crescer é preciso acelerar?
Ah...esse velho costume (velho?) de dizer o dito, de mastigar o mastigado!
Numa conversa entre amigos, ontem, me perguntei...ou melhor (é melhor!), me perguntaram se o dito já está dito. Se o explicado e o entendido já não precisam de adendos ou anexos. Não sei!
Será que falamos demais e fazemos de-menos!? Muita crítica bem feita sem ser aplicada na prática!
Ah...que vontade de falar de tudo! Mas eis que vem aquela dificuldade de colocar no papel! Será que consigo escrever? Será que entendi, ou entendo, tudo que se passa aqui (em minha cabeça?)? Tudo não! Mas do que interessa. Será que consigo entender o que acontece? Por quê acontece?
“O discurso também é ação!” – coisa que aprendi sentado numa cadeira de universidade. Sei lá!
Pois bem...se falar e escrever ainda não surtiu efeito...se a ação ainda não é reflexo do que foi dito, falemos! Continuemos escrevendo!

Não! Não quero escrever! Ou pior, não quero pensar!
Mas devo! Devo?
Essa tristeza que me bate tão forte!
Triste ver mais pessoas mortas em razão de um ‘apagão’ aéreo!
Apagão aéreo!
Apagamos a nossa capacidade de nos mobilizarmos! O último, faz tempo, já saiu apagando a luz!
Saiu quando? Saiu? Saímos?
Apagão moral! (Quem dera fosse apagão amoral!)
Quando é que esse país se perdeu no escuro?
Não! Não é Lula! Não é FHC! Tampouco Collor ou Sarney!
São todos!
Pior! Muito pior: SOMOS TODOS!
Somos todos idiotas! Sim, idiotas!
Letárgicos, dopados, idiotas, apagados!
Está por todos os lados! Não será a abundância [bunda] do Madeira, nem Angras e nem o etanol a nos acender! A acender o apagado!
Não é falta de energia. Falta faísca! É falta de interruptor! Isso! Interrompa-nos, por favor!
Interrompa-nos, quem?
Aceleramos! Crescemos? Para onde vamos?
Se estamos apagados, não vemos!

Não, não quero ver! Não quero ver, cheirar e nem sentir!
Cheiramos cocaína! Sentimos medo, pânico!
Que estado letárgico é esse?
Vivemos na Idade da Pedra? Talvez no período do império romano! Sim...já temos nosso imperador! Temos vários imperadores!
Imperativo!
Panis et circences! Somos os palhaços!
Ou seria Pan et circences? *
PÂNico!
UUUUU! Vaias ao imperador!
Tudo bem! Plano de aceleração do crescimento. Vai o dinheiro que for! Tudo para garantir o circo!
O pão fica pra depois! Mas quando?!
E no esporte que é ópio do povo...(sim, estamos muito dopados, mesmo!)...clap, clap, clap ao imperador (um deles)! O ‘senado’ foi unânime em sua aclamação!
E que Império, hein!? Serão mais sete anos fabricando ópio, dopando-nos! E com 18, 25!
Até a próxima Era de Panis et Circencis!
Mas tudo bem! Morre gente ali, num coliseu qualquer! Antes de uma batalha de gladiadores qualquer!
Queima-se, estupra-se, mata-se!
Matamo-nos!
CRASH!
Apagão! Black out! Blecaute!
Ah...é uma palavra nova por dia! Somos os Guimarães Rosa ao avesso!
O avesso do avesso do avesso do avesso!

Não...não quero ouvir. Nem tocar!
CRASH!
Não quero tocar! Não quero sujar as mãos! Estariam limpas?!
Pra tirá-lo de lá, temos que sujar as mãos!
Pois bem....sujemos!
E podemos aproveitar, já que as mãos estão sujas, e tirá-los a todos!
Todos quem? Todos nós?
Sim, todos nós!
Nós! Nó...

Não...não quero andar!
Aceleramos?
Derrapamos.
Derrapamos numa pista molhada de suor, sangue, cocô, lama!
Estraçalhamo-nos!
Levantamo-nos?

Felipe Figueiredo Mello – 18 de julho de 2007

*Termo retirado do blog kibeloco.com.br