26 de dez. de 2010

escolha

Não
Escolha não
Não escolha não
Não escolha não
Não encolha
escolha não.

Encalhe não
No encaixe
Não encane não
Caiba no chão
Descole então

Calhe não
Não cale não
Não entale vão
Colha
Do chão

Escale do chão
Escole do vão
Escolha não
Não encolha
Não escolha não

16 de dez. de 2010

nunca

O nunca é palavra absurda
Palavra que não me cabe,
Não nos cabe.
Nunca é elástico temporal rasgado,
o esticar da existência sem medida.
Representação do vazio,
morte do querer,
nunca é antônimo da vida.
Mete medo por não estar no amanhã.
Talvez o nunca seja combustível,
advérbio traiçoeiro que nos enche de ganas.
Nos move à transgressão fronteiriça
entre o ser e o não-ser
O nunca, quase sempre, precede uma pergunta:
Será?
E assim ficamos, sem resposta,
à espera de um talvez.
Talvez uma dança
Talvez um abraço
Talvez um beijo.

24 de nov. de 2010

Paul

Paul vive!
Ao contrário do que disse LP em rotação contrária.
Macca nasceu em rotação contrária e já sabia aos 20 o que seria aos 64!
Viveu e deixou viver.
E não quer deixar morrer essa beatlemania.
Feito criança, canta, pula, tropeça e se levanta.
Navegando como poucos o mar do tempo,
verdadeiro capitão de submarino.
Sabendo como poucos do ontem, do hoje e que do amanhã nunca se sabe,
Fazendo do público seu oceano, elixir da vida.
É de onde tira tanta energia,
atravessando gerações de fãs,
Disposto a arrancar-nos mais uma lágrima,
mais um yeah yeah yeah.
No dia em que descer do palco,
será pássaro negro a cantar na noite.

16 de nov. de 2010

sapatos

Vista essa camisa que vai lhe cair bem.
de onde veio essa hão de vir mais de cem,
basta arriscar-se um pouco, o mínimo que já tem.

Experimenta essa calça e não repara a medida,
vê que é justa a barra e nem está muito puída.
S'enfia as mãos no bolso, já é pronta a saída.

Se é seu o que não preciso, eis um par de meias.
vêm do fundo do armário, de onde aranhas fazem teias.
Do tecido antes grosso e do cano sem elástico,
vejo o melhor de mim, o meu trajar mais clássico.

Só não dou os meus sapatos porque estes não lhe calçam,
Caminha com tuas pernas e anda o melhor que façam.
O que tracei é meu, cada centímetro, polegada.
Deixei p'atrás sem ver, o meu passado, minha passada.

31 de out. de 2010

incauto ou dois tempos

O preço que se paga é pra lá de alto
Do rompimento este que vai além dum salto
E ainda que se diga não passar de incauto
não afirma ser tal o último ato.

E em salto, cai-se duro lá pra dentro
Rumo a si bem mais próximo do centro
Afora tudo e todos, vê-se mais de perto
Não confia, porém, ser aquele o rumo certo.
...
E de dentro atina uma explosão
Centrifuga em sangue o coração
Desafio fino ao ego, uma prisão
Retira-lhe por baixo todo chão

E de nova, perde-se de si
Incontém-se a esperar bendito 'sim'
Gêmea alma, que em troca deu-se aqui
E ao sinal, decretar querido fim

7 de out. de 2010

deseo

Hay un deseo!
Salir por ahí
en coche
ou à pé.
Andar caminos
por latinoamérica.
Soy loco por ti
Trilhar desconhecido
perder-me em achados
e distanciar-me de mim
e ver...sé lá, se lá estoy.
Mas allá de más allá
Donde me quedo sobre
pés, sobre piso, painéis
Techo.
Voluntad de voluntário.
gran encuentro en mi
meus caros, ricos, muy lindos
compañeros.
Cambiar todo!

24 de set. de 2010

jogo

De repente eu sabia jogar.
O jogo
Abrindo marcação em campo de defesa
Entrando pelos lados em clara interação
Tocando a bola em franca ascensão
Chamando o passe ao sinal da mão.

Súbito fui de lado a lado
Até onde não havia estado.
Subi à linha divisora d'águas
Driblei então incontáveis mágoas

De relance o marcador e então a finta!
Cá na frente é onde aperta
No toque final, porteira aberta,
Se vai o último homem de saída...
Frente a frente à esperada meta
e

15 de ago. de 2010

locusts

There goes a cloud
It doesn't go all around.
As long as it is a found

Down the field it spreads
No pity on one's head
No mercy to get fed

Got to sacrifice it's own food
To leave the ground for good
A hunger which is unknown
eats here and there, and gone!

with a speed as fast as step
moves itself to another crop
willing only to get on top
waiting lonely for life to stop

5 de ago. de 2010

parei!

parei!
tava alta a cotação
contrária a conotação
superada a inflação
quero sair do centro do epicentro do egocentro
ser mais um na multidão
largar o megafone da mão
deixar pra lá a rouquidão e
sair
a romper laços
curvar traços
encurtar passos.

21 de mai. de 2010

repostagem de 31/05/09

hífen ou relação

Antes eras nada.
Ainda que fosse só desejo.
Logo, eras algo.
Outro lado da mesa, talvez.
Tempo passa, foste de outro.
Não por completo, mas
Não o sei completamente.
Depois, eras mais.
Relação cordial.
Outro lado do lado, talvez.
Subitamente, foste meu
mais intenso querer.
Eras uma e, no entanto, já
Havia sido várias.
Longamente quis-te, pois
Eras demais. Eras minha.
(E eu sendo o mesmo)
Rapidamente, já não a tinha.
E, num vazio, revelou-se outra.
Outra significação.
Dias, semanas, meses e és algo.
Não nada.
Não mais tudo. Nem tanto.
E, no entanto, em uma foste várias.
Milhão de significados.

9 de mai. de 2010

ressaca

Acordou com a sensação de rotina e o gosto do cigarro na boca.
A chuva lá fora e o cabo-de-guarda-chuva na boca.
Deu um gole na garrafa de água ex-gelada da noite anterior. Só pra jogar a baba cinzeiro prá dentro.
Levantou-se e sentiu a coxa. Eita preparofísico de sedentário.
Por um minuto ou dois, sentiu-se o ser mais solitário do mundo.
Engatilhou o revólver imaginário guardado na gaveta, enfiou o cano na goela e tratou de misturar sangue ao cuspe rebordoso.
Ressaca braba e miolos no carpete!

30 de abr. de 2010

teia

Não vale o tempo
nem vale o trampo
Não cabe a fossa
não forma bossa
Não faz a letra
nem leva à treta
Não traz o som
e nem muda o tom
não abre a fala
nem fecha e cala
sem sopro e voz
sem dor por vós.
Não dá em reza,
é nada que se preza.
Não cria cor,
não salta veia,
enreda teia
ou gera amor.

Não enreda treta
nem fecha em fossa.
Não sopra fala
nem gera o som.
Não traz o trampo,
nem cria a letra.
Não dá em tempo,
é nada que se bossa.
Sem dor por veia,
sem sopro por vós.
Nada que se reza
e tampouco dá em voz.
não me cria amor,
nem abre tom.
Não te cabe a dor,
nem te traz cor...

27 de abr. de 2010

quedo

Se eu me jogasse,
você me pegaria?
A(morte)ceria minha queda
livre de bruços
de braços em grilhões?

Se eu me jogasse,
seria para esborrachar a cara
perder face a face
o meu passado.
Salto em amnésia,
cair mesmo no esquecimento.

Meu medo não é a queda
Tomara mesmo é que caia!
Por terra pra por terra sobre
sobras.

Meu medo é me jogar
contra mim mesmo
em duelo solitário.
Medo é me jogar e
ter que jogar com você.

Se eu me jogasse,
você me pegaria
ou cairia
comigo?

17 de abr. de 2010

colorida

Poderia chamar de indefinível essa cor.

Tornaria insuperável esse amor.

Faria de ti razão de toda dor

E ainda assim não estarias lá pra o que for.

Se te chamasse pra pegar em minha mão,

Correria o risco de te ouvir doído ‘não’.

Me poria a pensar no tudo em vão

E perderia o senso em solidão.

Hoje quero te beijar uma vez mais,

Pra provar-me desvencilhado e capaz

De viver só co’alma em paz

Sem sofrer com a falta que me faz

Se, no entanto, não quiseres

Se aproximar daquilo que me fere,

E um instante quiser qu’espere,

Me movo antes que a vontade se altere.

12 de abr. de 2010

espelho

Disposto a receber luz ou não,
jogado-ao-mundo ao alcance da mão,
no menor clarão que dá porta em fresta,
recebo o feixe que enfim me resta.

Deste raio que bate em superfície,
se aprofunda o mundo e me toca,
especulo se disponho ou não da troca,
e do poder que cá no pulso padece.

Aquele lúmen que a um só tempo me altera,
de mim sai e mudo mudo a tez que aqui encerra
em outro eu, veloz e instantâneo, cá encontro,
mudado, enfim, pr'além daquele ponto.

E novamente, repito, não deixo terminar:
de volta à luz em rebote sem cessar,
compreendo o fado um dia a chegar.

26 de fev. de 2010

No sir! paradox

I'm not human
There's no flesh behind green eyes
Gray eyes.
Don't have white skin, the leg ain't right
Not skinny nor carnivore
No blood and guts and soul...
Got no ideas, no ideals.
Just an unvolunteer being
Took no job, take no vacation.
I'm not romantic, lost nationality
and those three solid colors.
Nobody's best friend, just a fool on the hill
Ain't no poet, writer, brighter student!
My heart skipped a beat or just stopped a little bit
Can't control life. Mine or yours!
No doubts i'm not so sure of it.
i'm not against though also not in favour
but you cannot see me on the wall.
I'm just an anti-thesis of a paradox

22 de fev. de 2010

Test-drive (repostagem)

Pôs-me fenda na cabeça,
Abriu-me buraco na testa,
("testa, Felipe, testa!")
Deixou-me chegar perto,
E perto, e perto...
que criou-me aperto.

Em não me deixar ser teu,
Nunca fui tão meu,
Tão mau!
E mal pude evitar querer-te bem.

E, afinal, que mal que tem,
Se minha não és,
Sem poder (nem querer ou saber)
ser de ninguém?

18 de fev. de 2010

Test-drive

Pôs-me fenda na cabeça,
Abriu-me buraco na testa,
("testa, Felipe, testa!")
Deixou-me chegar perto,
E perto, e perto...
que criou-me aperto.

Em não me deixar ser teu,
Nunca fui tão meu,
Tão mau!
E mal pude evitar querer-te bem.

E, afinal, que mal que tem,
Se minha não és,
Sem poder (nem querer ou saber)
ser de ninguém?