30 de abr. de 2010

teia

Não vale o tempo
nem vale o trampo
Não cabe a fossa
não forma bossa
Não faz a letra
nem leva à treta
Não traz o som
e nem muda o tom
não abre a fala
nem fecha e cala
sem sopro e voz
sem dor por vós.
Não dá em reza,
é nada que se preza.
Não cria cor,
não salta veia,
enreda teia
ou gera amor.

Não enreda treta
nem fecha em fossa.
Não sopra fala
nem gera o som.
Não traz o trampo,
nem cria a letra.
Não dá em tempo,
é nada que se bossa.
Sem dor por veia,
sem sopro por vós.
Nada que se reza
e tampouco dá em voz.
não me cria amor,
nem abre tom.
Não te cabe a dor,
nem te traz cor...

27 de abr. de 2010

quedo

Se eu me jogasse,
você me pegaria?
A(morte)ceria minha queda
livre de bruços
de braços em grilhões?

Se eu me jogasse,
seria para esborrachar a cara
perder face a face
o meu passado.
Salto em amnésia,
cair mesmo no esquecimento.

Meu medo não é a queda
Tomara mesmo é que caia!
Por terra pra por terra sobre
sobras.

Meu medo é me jogar
contra mim mesmo
em duelo solitário.
Medo é me jogar e
ter que jogar com você.

Se eu me jogasse,
você me pegaria
ou cairia
comigo?

17 de abr. de 2010

colorida

Poderia chamar de indefinível essa cor.

Tornaria insuperável esse amor.

Faria de ti razão de toda dor

E ainda assim não estarias lá pra o que for.

Se te chamasse pra pegar em minha mão,

Correria o risco de te ouvir doído ‘não’.

Me poria a pensar no tudo em vão

E perderia o senso em solidão.

Hoje quero te beijar uma vez mais,

Pra provar-me desvencilhado e capaz

De viver só co’alma em paz

Sem sofrer com a falta que me faz

Se, no entanto, não quiseres

Se aproximar daquilo que me fere,

E um instante quiser qu’espere,

Me movo antes que a vontade se altere.

12 de abr. de 2010

espelho

Disposto a receber luz ou não,
jogado-ao-mundo ao alcance da mão,
no menor clarão que dá porta em fresta,
recebo o feixe que enfim me resta.

Deste raio que bate em superfície,
se aprofunda o mundo e me toca,
especulo se disponho ou não da troca,
e do poder que cá no pulso padece.

Aquele lúmen que a um só tempo me altera,
de mim sai e mudo mudo a tez que aqui encerra
em outro eu, veloz e instantâneo, cá encontro,
mudado, enfim, pr'além daquele ponto.

E novamente, repito, não deixo terminar:
de volta à luz em rebote sem cessar,
compreendo o fado um dia a chegar.