27 de mar. de 2012

a dois


a dois é que se faz um
amor
que se desenha uma vida
a dois
com linhas curvas, nunca tortas,
que se traça uma meta
sem método, sem matemática
que se estendem infinitas
a dois é que se colore os dias
às vezes a giz, ora a lápis
que se vive o tempo sem pressa
e precisamente
a dois até se descobre o contraste
do um, de cada um,
mas um mais um não é igual
a dois

19 de mar. de 2012

Felicidade e angústia

Declaro, para os devidos fins, que aqui escreve um cara feliz.
O que se vê aqui é a marca mais que estabelecida da certeza,
Longe dos sarcasmos que outrora pingaram nessas páginas.
Perto do coração que em boa hora pulsou em lágrimas,
Porque mesmo na mais profunda interrogação se tem beleza.
E na angústia do caminho, enfim, me aproprio do que fiz e não fiz.
Pois que não há vida sem medo de perdê-la
E não há morte sem vontade de vivê-la.

Hesito (escrita antes)

Tremo nas bases
à possibilidade de
Equívoco.
Indecido travar
batalhas comigo,
tampouco batalhas
outras, sem esperança de
êxito.
Fico no meio do caminho
entre ser e não ser
com deus e diabo nos ombros
Diplomata de mim.
E, na berlinda, não sou.
Não serei. Nunca fui
Exit...

13 de mar. de 2012

escrita e terapia:terapia escrita

Esse blog é velho. Do tempo que ainda não tinha facebook, quando eu não tinha orkut e essa era minha única forma de expressão na internet (sem contar o email).
Também é de um tempo em que a principal coisa que passava na minha cabeça era futebol. Em 2006, foi praticamente um casamento. Entrava aqui todo dia só pra falar de futebol. O nome do blog era só "O futebol". E a sensação que eu tinha era de que não precisava tanto de leitores, que eram poucos e bons. O blog era uma maneira de registrar simplesmente o que passava naquela cabeça.
O tempo foi passando e comecei a escrever sobre outros assuntos. E de outras formas.
O blog virou uma espécie de diário pessoal, ainda que aberto pra todo mundo ler. Por um longo tempo, uns dois, três anos, escrevi muita poesia. Muita mesmo! E era fácil. Ás vezes escrevia durante uma aula e postava aqui, ás vezes, numa madrugada acordado, jogava as palavras na tela e gostava, em primeira mão, do que lia. Ficou ainda mais legal depois que comprei um notebook, porque passei a escrever na cama, e isso até me tornou uma pessoa mais noturna.
Nesse tempo, a sensação que tinha era de que as poesias, em geral, funcionavam como terapia, como uma sublimação psicanalítica para o que eu vinha reprimindo.
A terapia por escrita.
Era uma delícia terminar uma poesia com uma sensação de leveza. Como se tivesse literalmente tirado um peso dos ombros. Sinto muita falta dessa fluidez poética que um dia tive! Foram mais de 70 poesias naquele período.
Hoje eu até escrevo algumas, mas depois de muito pensar, depois de muito esforço, depois de jogar muita folha fora. Ou de deixar rascunhos de lado sem postar no blog. Tem muita coisa escondida no próprio blog. E nem eu lembro exatamente o quê!
O tempo foi passando e eu comecei a fazer terapia de fato. Consultório, hora marcada, terapeuta, divã, etc. Não sei se foi coincidência a diminuição da frequência no blog.
E mesmo com a terapia semanal, sempre senti falta desse espaço. Até porque isso aqui é diferente de uma terapia, mesmo com alguns efeitos semelhantes.
O que me deixa encafifado é a dificuldade de fluidez de palavras, tão necessária para a escrita e também para a terapia.
De uns tempos pra cá, penso demais antes de escrever ou de falar. E isso já me prejudicou muito!
Como se eu tivesse, em algum ponto lá do passado, deixado de me colocar, de pôr minhas opiniões na mesa, de me comprometer com algo ou comigo mesmo. E esse espaço, que sempre foi ocupado, virou velharia empoeirada. Um traço da minha memória, ainda que memória recente.
Entre 2010 e 2011, fiquei um ano sem fazer terapia. Voltei em setembro último.
A maior dificuldade de todas tem sido criar ali um espaço meu, sem amarras, sem vergonhas, sem resistências. Como era, simbolicamente, esse espaço aqui. Eu jogava minha opinião aqui e foda-se! Se alguém lia e concordava, ótimo. Se não concordava, perfeito, mais pano pra manga. Se não liam, eu lia e isso bastava.
E agora luto com as amarras, com a escolha de palavras. Com o medo da discordância ou do compromisso que, ao escrever, tenho que ter comigo.
Me meço demais pela demanda alheia, perco espontaneidade.
Mas escrita é treino, como é o futebol e, por que não, a terapia. Escrever um haikai como se fosse um passe de dois metros ou a verbalização de uma memória marcante e latente.
Muitos versos, passes e verbos depois, a gente parece que sabe onde a bola vai cair.
O esforço aqui é de voltar a escrever. Sobre futebol e...

Dois


Talvez eu não te diga isso tantas vezes quanto posso.
Por uma crença, que só agora vejo como é estúpida, de que não importa a quantidade disso dito, nunca vou me aproximar do tamanho do sentimento que desejo demonstrar.
Também por acreditar burramente que a palavra empobrece a emoção.
Ás vezes sim, ás vezes não.
Nesse caso, veementemente não!
E percebo que a palavra faz parte do cuidado, faz parte do dia-a-dia. Dessa linda construção que é a vida à dois!
E como eu gosto de nós dois!
E como eu gosto de dizer que gosto de nós dois!
E eu já sinto pelo tanto que deixei de falar, de berrar até! Aos quatro, oito, dezesseis cantos desse mundo!
Disso que foi deixado, nada posso fazer. E dói. Dói muito!
A única forma de remeter ao não dito ontem é dizendo hoje. E amanhã também! Como se não houvesse amanhã. E eu já te escrevi uma vez (ufa!) que "te quero hoje, e hoje também te quero amanhã!"
Por isso te digo, Carol, eu te escrevo, linda, de uma vez por uma (e não por todas): eu te amo!

7 de mar. de 2012

Por aqui

Eu sou um louco.
Navego em minha cabeça
como poucos.
Transito na psique
feito vício.
Tropeço na razão
só pra cair.
Não deixo o coração
aqui entrar.
Não pode a emoção
aqui fluir.
Controlo o pensamento
qual milico.
Bloqueio minhas lágrimas
feito dique.
Manipulo movimento
igual boneco.
Medio as sensações
como político.
Combato cada dor
como remédio.
Escolho as palavras
feito juiz.
Escuto a voz alheia
feito padre.
Apanho de mim mesmo
feito pobre.
Procuro uma saída
feito gato.
Me perco em labirinto
feito poeta.
E descubro meu caminho
por aqui...