2 de out. de 2013

Entrelinhas

Leitura (orgulhosa) de O silêncio faz parte da resistência, de Neta Mello.

Instalemos nossas comissões da verdade. E que sejam de verdade.
Que se busque, pois, todas as minúcias.
Daquilo que se sabe e não se fala.
Do que não se vê e existe e resiste em nossos corações e mentes e corpos.
Que se apure purezas de impurezas. 
Que se aponte o que nos desaponta sem que dedos sejam apontados.
Que se abram os livros, arquivos, claustros de memórias.
Das mais reminiscentes reminiscências.
Pra descobrir e por sobre panos limpos, sem que se ponha panos quentes.
Rompam-se muros e ciclos viciosos.
Portrás da tortura, o torturador.
Portrás do torturador, por que não (?), quem sabe (?), outras torturas mais.
Que os ciclos, como num clique, tornem-se linhas. Evolução. Passação de tempo.
E que as comissões, mais que permanentes, sejam permeantes.
Porque as verdades, quando duras ditas elas, se não se converterem em cons-ciência, serão apenas mais duras torturas.
As mais duras torturas. E duram. De que o passado nunca passará. De que o presente virá embrulhado, embrulhando, em grilhões. De que o futuro seja sempre se.
Instalemos, pois, nossas comissões da verdade e sejamos verdadeiros.
Presente de papel passado, envolto no silêncio da folha em branco. Apesar de tudo, sem que nada mais pese tanto.
E sejamos criativos com o que pode vir.