28 de mar. de 2015

Bola

Tempo, essa coisa que nos escorre sem controle algum. Ilusão nossa.
Tempo como uma bola de futebol rolando num gramado.
O meu tempo, sempre tão marcado pela trajetória do meu time do coração. Dessa coisa que me aproxima dos meus amigos, mesmo que não compartilhem o clube Mais Querido, que me coloca dentro da minha família, essa tão Tricolor!
Esse tempo marcado pelos tantos noventa minutos acumulados, tão cheio de ciclos e círculos concêntricos em volta de uma bola de futebol.
Histórias dentro de histórias, dentro de histórias: O ciclo de uma metade de um jogo, que define humores e mau-humores; o ciclo de dois tempos que se conjugam ora em vitória, ora em empate, ora em derrota e que define o(s) dia(s) seguinte(s); ciclo de um campeonato, que condiciona um semestre; ciclo de uma temporada, que pode definir os senãos e poréns de uma vida. Ciclo de uma fase derrotada ou de uma fase iluminada. O ciclo de um craque, de um ídolo, de um canto de torcida.
São tantos os tempos que temos que lidar nesse apaixonante universo do futebol que ás vezes sinto que não dou conta.
Olho pra trás e procuro uma lógica reconfortante nesse caos ludopédico: nasci campeão, fui criança vitoriosa e adolescente derrotado. Entrei na vida adulta sem saber perder, sabendo muito o que é perder. Homem feito, acho, me sinto de volta àquela adolescência. Vou voltar a ser adulto algum dia?
E nesse tempo, indivisíveis parecem ser a alma do goleiro das três cores e o time das três cores. Indissociáveis são meu sangue correndo nas veias e a imagem do técnico batendo a mão no pulso.
Não sei o que é ser Tricolor sem estes elementos transcendentais no gramado ou na tela da tevê.
É ciclo se encerrando, trazendo lágrimas de choro e riso. Memórias de domingos de sol, quartas de chuva, madrugadas insones.
E vou ter que começar outra jornada, descobrir o que há na vida após chuteiras penduradas.

Que seja no cimento do velho templo, ao lado dos meus!

7 de mar. de 2015

Sabedoria minha

Sabedoria sendo gestada no ventre do mundo:
Enquanto ela não chega, me debato com minhas ignorâncias,
Minhas velhas implicâncias, meus piores hábitos.
Hábito este de ser paciente só de boca.
Me fazer ausente na mais concreta das presenças.
Negar-me, contradizer-me, contraviver-me.
Hábito do poeta de aplicativo, não do espírito.
Dando murro em ponta de lápis.
Assim eu morro e faço morrer.
Fujo e finjo.

Se eu peço perdão, hei de oferecer.
Que seja por compaixão, não por hábito,
Por escambo de palavras.
O mesmo vale para a empatia:
Hei de abrir-me, largar armas.
Dar carinho.
A mão que afaga é a mesma que afaga.