10 de fev. de 2015

vitiu

Confio na natureza das coisas.
Aguardo o tempo de ser e não ser,
De deixar reverberar verdades ocultas,
De criar espaços sem truculências,
Sem cinismo impingido.
(os piores dias de nossas vidas são os mais cínicos e vice-versa)
(as piores vidas de nossos dias são as mais cínicas)

Vida não é ringue onde se range dentes,
onde se põe a língua entredentes,
em que não se medem palavras descabidas.
Tampouco pista de atletismo,
de barreiras nunca findas.
Vida não é instrumento de malhação.
(não nos penduremos feito piñatas)

Há que se ver a roda rodar,
E, de fato, vê-la a rodar.
Adorar a roda a rodar!
Confiar nas sabedorias dos ciclos
e, por quê não (por quê não, ó raios?), viciar-se neles.
(pôr ouvido no peito e escutar o que há lá)

Ao fim e ao cabo,
Sem fim nem cabo,
Sem cabimento mesmo,
Fincar unhas na roda seguinte, equilibrando-se sobre
instáveis chãos. Chãos preenchidos de verdades, entretanto.
E aí fincar bandeiras, morar e namorar outros vícios mais.
(porque sim, ó raios!)