19 de out. de 2017

Minhas partes mais difíceis
São o que não consigo ser.
Meus tumores:
Meus temores
Tremores de insuficiência.
Minhas ignorâncias
Que hoje assolam.
Me assombram duvidas
Do que apalpo e não vejo
Do que sinto e me escapa
Parte física inexistente
Meio copo vazio
Que me afoga
Enxente
Nenhuma água
Incontáveis mágoas.
É um estampido mudo
Um tapa n'ouvido
Surdo.
Minhas partes que me ocupam
Tomam assento sem asseio
Tomam-me de assalto
Roubam-me assuntos.
E sinto que não há santo
Neste mundo que me traga
Voz.
Minhas partes que mutilam
Me tornam reles metade
Me roubam integridade
São as partes mais difíceis
Que longe de mim não seriam
E eu nem seria.
É o que resta é autofagia
Por pra dentro tais partes,
Das humanas, a mais nobre arte:
Fazer do indesejável corte
Apenas um recorte, um retalho de si.
Digerir a parte
E o todo.
Ser si
E apenas
Só.

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