2 de ago. de 2014

Vovô

O velho a caminhar na areia.
Céu escuro como telhado, cruzeiro apontando o sul no horizonte do mar, grãos ainda quentes do dia a grudar nos pés.
Sereno.
Aquele senhor, alegre e enigmático, tramando qual uma criança sua próxima aventura.
Cabelos brancos, jovial, embaralhando palavras e contando piadas para si mesmo.
Rindo só.
Nas mãos, um vidro de palmito cheio de cruzeiros.
Qual dos netos iria achar aquele baú?
Ao velho mais importava o que se passaria entre o anúncio da caça e o tesouro propriamente dito.
Vovô queria era farra das dúvidas dos netos. Queria tê-los todos aos calcanhares, pedindo uma dica, uma pista, um trocadilho que fosse facilitar a busca.
Ria-se alegremente.
Define latitudes e longitudes, certifica-se de que está mesmo só ali na areia: cava na areia com uma pá emprestada escondido dos netos e se torna o mais novo pirata daquelas praias, ocupando o posto do velho "Capitão Gancho de Esquerda".
Ri mais um tanto daquele dia que viria a seguir e trata de esconder bem as possíveis pistas deixadas para trás.
Antes ir embora, caminha até sua porção favorita de praia, espera que a onda venha lhe molhar os pés e agora só sorri. Aquele sorriso inconfundível.
Naquele instante, tantos eram os netos que lhe chegariam aos calcanhares no dia seguinte, até deixa uma rara lágrima lhe escorrer.
Vovô vivia por aqueles momentos entre a caça e o tesouro!
Feliz.

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