18 de jun. de 2009

Do blog da Neta




Depois de ouvir a declaração brilhante de uma pessoa comum sobre gente especial que não merece ser tratada como "pessoa comum", comecei a lembrar de tantos episódios que parecem refutar a afirmação. Confuso? As pessoas comuns são confusas...

Março de 1985. Meu filho Fernando tinha quatro anos. No jardim do prédio em que morávamos, ele dava voltas com a bicicleta herdada do irmão mais velho. As rodinhas ainda colocadas até que ele aprendesse a se equilibrar nas duas rodas.

Um menino pouco mais velho que também morava no prédio, tinha uma bicicleta idêntica, mas sem rodinhas. Os dois deixaram as bicicletas encostadas numa mureta para jogar futebol. Eu lia um livro no banco do jardim e acompanhava de perto as crianças no balanço, no gira-gira, correndo como crianças comuns, dando risadas comuns.

Quando avisei que era hora de subir, Fernando correu até a bicicleta e, sem perceber, pegou a sem rodinhas. Na primeira pedalada, um tombo. Um choro comum para um corte profundo no queixo. A correria de sempre com o tio médico, já acostumado com os pontos nos sobrinhos comuns.

No carro, a caminho do hospital, ouvimos pelo rádio que Tancredo Neves não tomara posse. Depois de vinte anos, teríamos um presidente não-militar. Não era um fato comum. Quem tomou posse foi seu vice. Os comentários variavam. O Brasil não tem sorte mesmo, diziam alguns. Brigamos pelas "diretas-já", conseguimos acabar com a ditadura e agora vem um velho político comum roubar a cena? Maldita diverticulite...

A cicatriz quase imperceptível no queixo ficou ligada à doença de Tancredo e ao calvário de cirurgias, boletins diários que interrompiam novelas. A maior novela tinha como cenário as janelas do Incor de São Paulo. Camelôs vendiam de tudo durante a agonia do presidente - o que foi sem nunca ter sido! Roque Santeiro comum. Impossível não associar a voz de Milton Nascimento e seu "Coração de Estudante" àqueles dias nada comuns.

O homem comum assumiu a presidência que não era dele. De forma indireta, pessoas comuns roubam a cena quando o destino quer. A História é cruel.

Nós, o povo comum, aguentamos planos para conter a hiperinflação comum. A corrupção virou rotina. Comum lá no Planalto Central. Comíamos brioches e croissants...

O Plano Cruzado congelou tudo. Os homens do presidente comum inventaram o tal do "gatilho salarial". Tiros certeiros nos pés do povo comum. Não conseguíamos comprar leite em pó para os filhos, nem carne nos açougues. Só no mercado-negro comum.
Outro político nada comum, eleito por nós, estudantes na década de 70, que num voto de protesto queriamos nos fazer ouvir. Pois esse senador comum, roubou como qualquer ladrão comum. Procurou bois gordos nos pastos, chamou a imprensa para mostrar como era incomum. Continua na ativa o antigo senador! Muito rico.

No meio dos planos salvacionistas, o salário devorado de um hora para outra. Filas nos supermercados. Claro que só as pessoas comuns se desesperavam com isso. Não tínhamos três poderes.

O presidente comum ainda tentou um plano comum chamado "Verão". A inflação insisitia. Tudo comum. Em 88, ganhamos nova Constituição. O homem comum passou a faixa de "miss" e mudou o "curral eleitoral" para estado vizinho ao seu. De galho em galho, como um macaco comum.

O povo comum que de escrita desenha apenas o próprio nome, sabia em que quadradinho marcar homens especiais. Sempre na situação, nunca na oposição. Tudo muito comum.

O Brasil deu muitas voltas. O real domou a inflação. A oposição gritou, reclamou de desmandos, mas o dinheiro valia a mesma coisa de um dia para o outro. Pessoas comuns entenderam o que é estabilidade. Falta uma educação mais comum. Uma saúde sem desmandos. Professores melhores do que os comuns. Distribuição de renda incomum.

O povo comum, que elege pessoas comuns, agora nas modernas máquinas eletrônicas, escolhe pessoas comuns de cabelos tingidos de "alazão", bigode penteado e jaquetão azul marinho. Sem sobrinhas, sobrinhos, netos e afilhados com depósitos comuns em contas bancárias identificadas. Nada comum. Nepotismo comum. Raiva comum. E sabemos que a justiça comum nada pode fazer. Se pudesse, nada faria. Tipo comum.

Neta
18 de junho 2009

2 comentários:

Anônimo disse...

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