2 de jun. de 2009

Qual é o pior?

Navegando pelas páginas esportivas desta terça-feira, me surpreendi com a manchete do UOL Esporte: "Jornais revelam que Morumbi é pior estádio da Copa e pode reduzir capacidade"

Ok, sou sãopaulino e quando se trata de Morumbi, sou o primeiro a criticar!
Conheço o estádio por frequentá-lo quase que semanalmente há uns bons seis anos e sei dos inúmeros defeitos que ele tem.
Os acessos das ruas ao estádio são péssimos. Rampas que não atendem à demanda e ao fluxo de torcedores em grandes jogos. Portões que se mantém fechados por organização da polícia paulista e criam uma fila interminável e insuportável momentos antes das partidas.
Quantas vezes não fiquei sufocado entre dezenas de torcedores à espera da polícia liberar o fluxo para a revista e, em seguida, para as catracas? Quantas vezes não vi crianças sendo esmagadas por torcedores sem respeito que só fazem empurrar e enervar os já tensos policiais?

Catracas adentro, a coisa continua igual. São apenas doze bocas de entrada para as arquibancadas. Três para o setor azul, duas para o setor laranja, três para o setor especial (antigo setor vermelho) e quatro para o setor amarelo (o menos frequentado em dias de jogos).
As bocas, combinadas com os alambrados que dividem a arquibancada em setores, são a maior evidência de quão obsoleto o Morumbi está hoje. Bocas que datam da década de 60 e alambrados da década de 90, marcas de um tempo em que torcidas precisaram ser divididas.

Desafio um torcedor a ir do alambrado que divide o setor azul do amarelo até o banheiro em dia de jogo cheio! É um suplício, porque, na teoria, a boca mais próxima está do outro lado do alambrado, no setor amarelo! Na prática, o torcedor tem que passar pelo desafio de se equilibrar em linha reta entre as pernas de uns e as costas de outros até chegar à boca de acesso 'mais próxima'. Toda vez que faço isso, penso nos vendedores de sorvete ou água!
Além disso, a grande burrice arquitetônica do Morumbi é a disposição das escadas entre os assentos. Vá a um jogo e note que há escadas apenas de um lado das bocas!
De modo que o melhor jeito para evacuar o público é fazer com que ele desça degrau a degrau pisando nos assentos de plástico! Além do fato de o 'degrau' ter uns 60 cm!
Mas isso deveria ter sido previsto até nos anos 60 pelo Artigas!

Ok...mas vou mudar o foco!
Queria apenas pontuar algumas das críticas que faço ao estádio do meu time do coração.
Acho que vai ajudar a sustentar algumas inquietações que seguem.

Voltando à manchete, digo que me supreendi.
A primeira pergunta que me veio à cabeça foi: Quais são, realmente, os outros estádios da Copa?
Façamos uma lista, então. Em ordem alfabética de cidade-sede, como fez Blatter:
Mineirão, em Belo Horizonte; Mané Garrincha, em Brasília; Verdão, em Cuiabá; Arena da Baixada, em Curitiba; Castelão, em Fortaleza; Vivaldão, em Manaus; Arena das Dunas, em Natal;  Beira-Rio, em Porto Alegre; Cidade da Copa, em Recife; Maracanã, no Rio de Janeiro; Fonte Nova, em Salvador; e Morumbi, em São Paulo.

Listadas as arenas, uma análise superficial sobre cada uma. Baseio-me na página da Copa-14 do próprio UOL.
Em termos de gastos com investimentos especificamente nas arenas, Maracanã, Mané Garrincha, Verdão, Castelão, Vivaldão, Arena das Dunas e Cidade da Copa têm todas uma previsão de gastos superior a R$300 milhões. As recordistas são as arenas de Manaus e Brasília, com R$ 600 milhões de investimentos previstos.
Morumbi e Beira-Rio têm investimentos previstos em 135 e 14o milhões de reais, respectivamente.
Mineirão e Arena da Baixada não têm previsão divulgada.

Do primeiro grupo, digo que me surpreende o montante destinado ao Maracanã, recém-reformado para os Jogos Panamericanos, cujo legado ainda conta com o Engenhão (mas estes são outros 500, literalmente).
Entre as outras supresas, três potenciais elefantões em Brasília, Manaus e Cuiabá que, sabemos, não têm lá muita força em termos de futebol e de torcida. (Com todo respeito às três cidades, que infelizmente não conheço!)
Dos outros estádios, me preocupa também a nova Fonte Nova. Se nem soubemos lidar com os responsáveis pela ruína da velha, como virar a página e simplesmente nomear outros?
Recife me inquieta por já ter três arenas. É tão absurdo, ou maior, quanto querer erguer outra aqui em Sampa. Mas, enfim, deixo de ficar aflito e aceito que se diz que o Náutico abraçaria o novo estádio.
A Arena das Dunas desconfio da possibilidade de se tornar tão útil a nós brasileiros quanto a base militar norte-americana.
No entanto, acredito que todas as arenas do nordeste têm potencial de lotação dada a paixão da massa (e seu volume).

Do segundo grupo, me parece que as previsões estão ligeiramente esvaziadas, mas se trata de dois estádios particulares.
Quero mesmo é não ter que me preocupar com a quantidade de dinheiro investido no Morumbi e no Beira-Rio. Contanto que não venha do meu, do seu, do nosso bolso!
O mesmo penso da Arena da Baixada.

Agora retorno às inquietações iniciais:
Como dizer que o Morumbi é o pior estádio da Copa se há alguns que nem do papel saíram?
É estranho comparar um estádio pronto e acabado há quase 60 anos com um mero projeto.
Por quê o Morumbi seria o pior estádio? Em termos de investimentos previstos, ainda que triplicássemos, a soma é menor que de muitas outras arenas que carecem de reformas.
Até o inquestionável Maracanã parece precisar de mais do nosso dinheiro suado!
Aliás, por quê tantos questionamentos ao Morumbi se o Governo do Estado e o próprio São Paulo garantiram que não haverá investimento público? (gostaria muito de acreditar!)
E mais, de todos os estádios listados, são poucos os que demonstraram ímpeto de reformas nos últimos anos. Beira-Rio, Arena da Baixada e o próprio Morumbi vêm sendo melhorados aos poucos e com dinheiro dos clubes que os detêm.
No caso específico do Morumbi, o plano de utilização do anel inferior em dias comuns está saindo do papel cada vez mais. Em três anos, já há dois restaurantes, uma loja de material esportivo e uma livraria. Além da concessão de espaço para uma academia e da troca de assentos em um setor inteiro das arquibancadas.

Começo a achar que estão 'pegando no pé' do Morumbi.
Talvez o estádio seja 'o pior' justamente porque não aparenta dar espaço para 'vazamentos', se é que você me entende, caro leitor. Esses vazamentos que só investimentos públicos financiam.
Só acho que há muitos na imprensa comprando as baboseiras que a FIFA ou membros de seu (petit) comitê organizador andam dizendo por aí.
E, como disse, gostaria muito de acreditar na viabilidade de uma reforma sem uso do dinheiro público.
Mais do que isso, quero acreditar que o estádio se torne moderno e funcional, como pretende o perfumado projeto de Ruy Othake.

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