6 de set. de 2013

Iraque, ONU, EUA, mundo e Síria

É triste, para não dizer decepcionante.
Se dez anos atrás não nos surpreendemos com as mentiras contadas pelo grupo de extremistas sedentos por guerra para justificar a invasão ao Iraque, hoje ficamos boquiabertos com um Nobel da Paz articulando mais uma missão bélica no Oriente Médio.

O grupo que formava o governo norte-americano era composto por Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Colin Powell, Condolezza Rice e George W. Bush. Foi dessa cúpula que saiu uma das ações mais desastrosas e destrutivas da política internacional. A começar pela sede de vingança refletida na "Guerra ao Terror", que marcou toda a ação norte-americana depois das duas torres.
Em dois anos, os Estados Unidos fizeram de tudo: invadiram o Afeganistão em uma procura insana por Osama Bin Laden, alteraram dramaticamente os esquemas de segurança em aeroportos de todo o país (e, por tabela, de todo o mundo), criaram leis (Patriot Act) internas de invasão de privacidade e restrição de liberdades garantidas pela Constituição, associaram a organização terrorista Al Qaeda a governos autoritários, como o de Saddam Hussein, plantaram notícias falsas sobre terrorismo químico (quem não se lembra da famosa carta com Antrax, enviada por meio do serviço postal americano?), inventaram que o governo de Bagdá tinha capacidade de atacar física e quimicamente seus vizinhos ou mesmo a Terra dos Livres, desarticularam o sistema diplomático da ONU e convenceram governos europeus (Espanha e Reino Unido) de que valia o esforço invadir o Iraque para "promover a Democracia".

A diplomacia e, mais especificamente, a ONU se dividem entre antes e depois da invasão.
Antes de março de 2003, o Conselho de Segurança e o poder de veto dos membros permanentes era soberano. A Assembléia Geral representava um foro legítimo de discussão. As agências tinham respaldo para trabalhar e, ainda que a burocracia fosse um entrave, colhiam resultados.
Havia um processo de amadurecimento em curso.
Somália, Ruanda e Bósnia, desastres humanitários e políticos, precederam Kosovo e Timor Leste, pequenas vitórias de um sistema que dependia de boas cabeças e bons corações.
O melhor exemplo de boa cabeça e bom coração foi Sérgio Vieira de Mello. Dedicado durante mais de trinta anos à bandeira da ONU. Acreditava ferrenhamente na diplomacia, nos ideais humanitários, no diálogo. Participou tanto dos desastres quanto das vitórias das Nações Unidas.
Sérgio dizia que a ONU era o que os países-membros fizessem dela.
Sérgio se foi em um atentado em Bagdá, servindo à ONU, vulnerável no epicentro de uma batalha burra, abandonado pelos invasores e perseguido pelos invadidos.
A ONU se foi junto.

Impossível calcular o tamanho da perda, o tempo perdido, o retrocesso provocado.
O que vemos hoje é ainda reflexo da década passada.
A Síria, vizinha do Iraque, não é o Iraque. A mídia não é mais a mesma. A opinião pública também não.
Rússia, China, França e Reino Unido também são outros.
Os próprios americanos são diferentes. Morreram mais de 4000 americanos. Outras duas torres gêmeas absolutamente injustificadas. O Iraque não é um país melhor e mais democrático.
A ONU é algo que não se sabe bem como definir. Seu secretário-geral é inexpressivo e sem carisma.
Não há foro para se discutir as questões mais importantes da política internacional. Não há margem para uma atuação conjunta. Não há vontade política de diálogo e construção de paz por vias pacíficas.
Evidentemente não se pode colocar na conta dos Estados Unidos toda essa tragédia global.
O que se pode dizer é sobre a falta de responsabilidade e a omissão de um país que deveria ser líder, protagonista do bem. Deveria ser o primeiro a levantar a bandeira das Nações Unidas.
E Obama faz parte disso. É decepção porque jamais colocou seu país a serviço da paz.
Sobre a questão da Síria, a tragédia das mortes por ataques químicos é consequência da omissão.
Ao invés de uma postura ativa, os americanos adotam uma reativa.
É muito triste e assustador.

Nenhum comentário: