12 de nov. de 2007

Histórias de Estádio - Parte 1

Ontem, em meu 26° jogo no Morumbi na temporada 2007, me lembrei de algo que desejava fazer desde o começo do ano passado, mas que minha paixão clubística sempre impediu.
A de observar, com mais atenção, os fatos curiosos que ocorrem num estádio de futebol.
Engraçado como sempre fui observador para isso. Mas acho que envelhecer, ao mesmo tempo que ganha-se no lado racional e no olhar maduro para o futebol, perde-se o olhar mágico e infantil que existe na criança frequentadora de estádios.
Lembro-me de vários momentos vividos nas arquibancadas do Morumbi, que não estão necessariamente ligados ao jogo jogado no gramado (perdão pela redundância), que só o olhar de uma criança é capaz de enxergar.

Do 'baleiro' vendendo seu produto.
Das pombas sobrevoando o estádio em partidas vazias na década de 90. (Aonde foram parar?)
Das baratas voadoras que, se não fechássemos a boca, pousariam num lugar desagradável.
Dos torcedores com jeitos peculiares de se torcer.
Da torcida se comportando em momentos cruciais da partida.
Da chegada no estádio.
Da caminhada para o 'outro lado' da arquibancada, para ver melhor o segundo tempo. Algo que não faço desde criança!
Da sensação de fazer parte de algo que não compreendemos tão bem na infância. (Será que compreendemos na vida adulta?)
Da ótima sensação que o programa familiar proporciona!
Enfim...algo que hoje não observo com olhar clínico. Como se ir ao estádio não fosse muita novidade para mim.
Quando criança, sempre era novidade!

Mas ontem, pude me lembrar disso!
Estávamos eu e dois fraternos companheiros de arquibancada sentados no lado direito do setor azul do Morumbi. Mais perto da arquibancada amarela. Aonde podemos nos sentar. O que é bastante agradável para quem frequenta o Morumbi, pois ultimamente, os jogos têm tido público tão bom, que fica difícil sentar (tanto pelo número de torcedores quanto pela qualidade do futebol apresentado pelo campeão brasileiro).
Sentados os três estávamos. E ninguém à nossa frente.
Mas eis que vêm dois homens, adultos, trazendo consigo três crianças. Duas delas com, provavelmente, 9/10 anos de idade. Um menino e uma menina. A outra criança, uma menina com a camisa do São Paulo, enorme para ela, de uns 4 ou 5 anos.

Eu comecei a reparar no jeito 'paizão' de um dos homens. Que parecia feliz por promover o programa.
É esse o principal alvo do marketing da diretoria tricolor! A família e as crianças!
E reparei também, como costumo fazer, no jeito 'desinteressado' da menina mais nova. O jogo não é a atração principal. Tudo é novidade! Tantos são os estímulos visuais, sonoros...

Jogo vai, jogo vem...o Tricolor paulista mostrando vontade em vencer o rival indigesto da temporada.
E a torcida empurrando o time! Exigente como sempre!
Mas numa jogada pela lateral esquerda, Aloísio, com lampejo de Fenômeno, observa uma brecha e dá um toque lateral para dentro da área, aonde estava Dagoberto, pedindo a bola.
Essas coisas que só uma arquibancada proporciona! O passe era excelente! Dali do alto, tem-se a visão perfeita.
Mas o zagueiro do Grêmio intercepta a bola num lapso de segundo, antes que Dagoberto pudesse ficar cara-a-cara com o goleiro...
E no lapso de segundo seguinte, a indignação pela não sequência de um belo lance e o costume que tantos anos de arquibancada nos oferece faz com que eu, em menor volume, e meu fraterno companheiro de arquibancada proferíssemos um palavrão que normalmente se perdería na imensidão do Estádio. Normalmente...
Os dois (ir)responsáveis pelo palavrão imediatamente percebem e se encolhem, rindo, na esperança do "normalmente"!
A família à nossa frente permanece inerte. Concentrada no futebol!
Exceto por uma menininha, de 4 ou 5 anos, com uma enorme camisa do São Paulo!
Ela vira-se vagarosamente para trás e lança-nos, com dois olhos azuis tão grandes quanto a camisa que ela usava, um olhar de reprovação que fala melhor do que qualquer ensinamento politicamente correto. Não só lança o olhar, como permanece, por 4 ou 5 segundos, mirando aqueles dois marmanjos, como que dizendo: "Que feio, hein!!?"

Meu fraterno companheiro olhou pra mim, rindo ainda: -Fiquei deste tamanhinho
E eu: -Vamos para o outro lado da arquibancada no segundo tempo?
E fomos.
Como não fazíamos desde quando eu era uma criança!

2 comentários:

yuribt disse...

Ih! As crianças são ótimas!

Anônimo disse...

Inesquecível!
Essa nunca vai sair da minha memória!