Nessa semana, pensando com meus botões, tentei conceber uma idéia do porquê Vanderlei Luxemburgo se tornou um técnico tão diferente daquele Vanderlei do Palmeiras, da era Parmalat.
O quê ocorreu?
Lendo as colunas do PVC, a impressão passada é de que Vanderlei perdeu o que chamamos de 'tesão' pela profissão.
Luxa desviou e seguiu um rumo de negócios do futebol. Passou a observar menos o que se passa em campo e dividiu sua atenção com os projetos dos clubes, que deveriam ser mais preocupação dos dirigentes. Não que Vanderlei tenha perdido sua capacidade de treinar um time, de entender um jogo e de desenvolver jovens jogadores, mas parece que sua função de "manager" não mostra tanta entrega quanto a que o técnico Vanderlei Luxemburgo mostrava.
Sim, porque técnico também tem que se entregar na sua profissão. De uma maneira diferente, mas tanto quanto um jogador em campo.
Peguemos o técnico bicampeão brasileiro Muricy Ramalho.
Muricy, ainda que não seja unanimidade no atual clube e não tenha sido nos clubes por onde passou, sempre foi respeitado pela entrega que ele mostra e pela paixão que tem pela profissão. Pela paixão que demonstra pelo futebol.
Foi assim no Náutico, no São Caetano e, principalmente, no Internacional.
Muricy é o décimo segundo jogador em campo. Ou pelo menos passa toda sua vibração para o time!
Minha memória não vai tão longe a ponto de lembrar detalhadamente do Vanderlei bicampeão brasileiro pelo Palmeiras, pois tinha apenas oito anos e não sou palmeirense. Mas lendo a respeito, ouvindo e conversando, assistindo a jogos reprisados, tenho a impressão de que Vanderlei Luxemburgo começou a trilhar esse caminho que incomoda a muitos e que gera críticas contundentes a partir de um momento em questão. E não é depois do título pelo Cruzeiro, que o devolveu o posto de melhor técnico brasileiro.
Foi o fim da carreira de Telê Santana como técnico.
Na biografia de Telê Santana, "Fio de Esperança", escrita por André Ribeiro, é relatado em muitos trechos o duelo pessoal travado entre Telê e Luxemburgo. Era mais do que um São Paulo e Palmeiras. Era o duelo entre a velha e a nova geração.
Mais ou menos como quando Schumacher apareceu na vida de Ayrton Senna.
Telê saiu de cena no ano do Palmeiras dos cem gols, treinado por Luxemburgo.
A partir daí, Luxemburgo deixou de duelar. Um duelo que certamente o enriquecia e o inspirava.
Luxa parou de ter o coração em campo.
Continuou melhorando, montando equipes vencedoras, ganhando títulos...
Mas a cada dia que passa, Luxa não tem seu duelo pessoal. Luxa duela consigo mesmo.
E como fazer questionamentos se só quem nos responde somos nós mesmos?
Talvez seja este o diferencial de Muricy Ramalho. Muricy não apenas carrega os ensinamentos de seu mestre. Muricy trava um bonito duelo com a figura de Telê Santana. Muricy luta para não ser o "Telezinho" ainda que este adjetivo deva enchê-lo de orgulho!
Não afirmo categoricamente que Vanderlei Luxemburgo seria um técnico melhor se Telê estivesse no mundo do futebol. Isso soa até como bobagem, visto o vasto currículo de Vanderlei. Mas acredito que o caminho seria outro.
2 comentários:
Linda leitura, Fi!
Ponto de vista diferente, ângulo lindo de observar uma questão quase prosaica!
E tá escrevendo cada vez melhor!
"Sei lá, sei lá, só sei que é preciso PAIXÃO!"
Poucas vezes cobri o SP. Mas já ouvi mais de uma vez da boca do Muricy: "Eu amo o que eu faço. Eu amo o futebol."
Isso muda tudo!
Beijo,
Fê.
O Luxa tem algum trauma relacionado a grana. Ele está sempre obcecado em como ganhar mais algum dinheirinho, e isso tira ele do trabalho. E não adianta dizer que ele precisa de um projeto, porque o Santos era um belo projeto, tinha bastante grana no meio, e ele errou. Gastou uma fortuna com o Zé Roberto e não montou um time em volta dele: levou só um Paulista.
Difícil saber o que vai fazer o Luxemburgo voltar ao papel de treinador - só se o Verdão for muito duro e limitar sua atuação ao campo.
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