14 de dez. de 2007

O caminho trilhado por Vanderlei

Nessa semana, pensando com meus botões, tentei conceber uma idéia do porquê Vanderlei Luxemburgo se tornou um técnico tão diferente daquele Vanderlei do Palmeiras, da era Parmalat.
O quê ocorreu?

Lendo as colunas do PVC, a impressão passada é de que Vanderlei perdeu o que chamamos de 'tesão' pela profissão.
Luxa desviou e seguiu um rumo de negócios do futebol. Passou a observar menos o que se passa em campo e dividiu sua atenção com os projetos dos clubes, que deveriam ser mais preocupação dos dirigentes. Não que Vanderlei tenha perdido sua capacidade de treinar um time, de entender um jogo e de desenvolver jovens jogadores, mas parece que sua função de "manager" não mostra tanta entrega quanto a que o técnico Vanderlei Luxemburgo mostrava.
Sim, porque técnico também tem que se entregar na sua profissão. De uma maneira diferente, mas tanto quanto um jogador em campo.

Peguemos o técnico bicampeão brasileiro Muricy Ramalho.
Muricy, ainda que não seja unanimidade no atual clube e não tenha sido nos clubes por onde passou, sempre foi respeitado pela entrega que ele mostra e pela paixão que tem pela profissão. Pela paixão que demonstra pelo futebol.
Foi assim no Náutico, no São Caetano e, principalmente, no Internacional.
Muricy é o décimo segundo jogador em campo. Ou pelo menos passa toda sua vibração para o time!

Minha memória não vai tão longe a ponto de lembrar detalhadamente do Vanderlei bicampeão brasileiro pelo Palmeiras, pois tinha apenas oito anos e não sou palmeirense. Mas lendo a respeito, ouvindo e conversando, assistindo a jogos reprisados, tenho a impressão de que Vanderlei Luxemburgo começou a trilhar esse caminho que incomoda a muitos e que gera críticas contundentes a partir de um momento em questão. E não é depois do título pelo Cruzeiro, que o devolveu o posto de melhor técnico brasileiro.
Foi o fim da carreira de Telê Santana como técnico.

Na biografia de Telê Santana, "Fio de Esperança", escrita por André Ribeiro, é relatado em muitos trechos o duelo pessoal travado entre Telê e Luxemburgo. Era mais do que um São Paulo e Palmeiras. Era o duelo entre a velha e a nova geração.
Mais ou menos como quando Schumacher apareceu na vida de Ayrton Senna.
Telê saiu de cena no ano do Palmeiras dos cem gols, treinado por Luxemburgo.
A partir daí, Luxemburgo deixou de duelar. Um duelo que certamente o enriquecia e o inspirava.
Luxa parou de ter o coração em campo.
Continuou melhorando, montando equipes vencedoras, ganhando títulos...
Mas a cada dia que passa, Luxa não tem seu duelo pessoal. Luxa duela consigo mesmo.
E como fazer questionamentos se só quem nos responde somos nós mesmos?

Talvez seja este o diferencial de Muricy Ramalho. Muricy não apenas carrega os ensinamentos de seu mestre. Muricy trava um bonito duelo com a figura de Telê Santana. Muricy luta para não ser o "Telezinho" ainda que este adjetivo deva enchê-lo de orgulho!

Não afirmo categoricamente que Vanderlei Luxemburgo seria um técnico melhor se Telê estivesse no mundo do futebol. Isso soa até como bobagem, visto o vasto currículo de Vanderlei. Mas acredito que o caminho seria outro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Linda leitura, Fi!

Ponto de vista diferente, ângulo lindo de observar uma questão quase prosaica!

E tá escrevendo cada vez melhor!

"Sei lá, sei lá, só sei que é preciso PAIXÃO!"

Poucas vezes cobri o SP. Mas já ouvi mais de uma vez da boca do Muricy: "Eu amo o que eu faço. Eu amo o futebol."

Isso muda tudo!

Beijo,

Fê.

Anônimo disse...

O Luxa tem algum trauma relacionado a grana. Ele está sempre obcecado em como ganhar mais algum dinheirinho, e isso tira ele do trabalho. E não adianta dizer que ele precisa de um projeto, porque o Santos era um belo projeto, tinha bastante grana no meio, e ele errou. Gastou uma fortuna com o Zé Roberto e não montou um time em volta dele: levou só um Paulista.
Difícil saber o que vai fazer o Luxemburgo voltar ao papel de treinador - só se o Verdão for muito duro e limitar sua atuação ao campo.