6 de mai. de 2009

Sábios eles...

Toda vez que volto de uma construção, chego em casa com uma mistura de sentimentos.
Não sei o quê pensar, em quem pensar e nem como pensar. Tudo flui junto em revoada.
No caso dessa construção de Maio, o exemplo melhor dessa revoada foi ao término da apresentação do vídeo ainda na escola com todos os voluntários.
Quando um dos intendentes mitológicos finaliza em grito a apresentação, o refeitório vai abaixo. E eu junto!
Simplesmente não sabia como reagir. E fiz tudo ao mesmo tempo. Chorei e chorei de rir, gritei e bati na mesa enquanto aplaudia, abraçava amigos enquanto pensava em mim e pensei em outros enquanto sozinho.
Se isso tudo ocorreu num espaço de 10, 15 segundos, imagine em 48 horas que tipo de sentimentos pude expressar!

Normalmente passo horas pensando na ideologia por trás do projeto, na vontade descomunal dos voluntários e em como isso tudo combina com o que penso e quero para mim e meu mundo. Imagino os donos da casa aproveitando o novo espaço, novo lar. Lembro de quanta gratidão foram capazes de demonstrar e até de comportamentos que requerem antropólogos, sociólogos e psicólogos para entender e explicar. Traços de um Brasil tão estranho e desconhecido por mim.
No entanto, quase que imperceptível, extremamente discreta, fica a marca dessas pessoas em nossas almas de voluntários. E é aí que quero chegar.

O que existe de mais belo e interessante no Teto é essa via de duas mãos que é difícil de mostrar em vídeos ou folders institucionais. Difícil porque a melhora ou ganho mais observável fica justamente do lado das famílias que recebem a casa. Teorica e inicialmente, são essas pessoas que vivem em condições terríveis que queremos e tentamos ajudar.
E é esse justamente o foco principal do projeto.
Mas disse 'via de duas mãos' porque há outros tantos efeitos que só quem os vive sabe quais são. Ou ao menos sente quais são.

Discretos, humildes, silenciosos, os moradores da favela passam ensinamentos que não estão em cartilhas ou sequer podem ser verbalizados. Não são expressos por palavras, gestos ou símbolos.
São transmitidos pelo olhar.
Fico pensando no quão difícil é transmitir ensinamentos apenas pelo olhar.
E fico me perguntando se eles sabem que nos transmitem isso tudo. (É claro que sabem!)
Uma sabedoria popular que não se encontra em carteiras ou bibliotecas universitárias. Que talvez não possa nem ser descrita em palavras (o que transforma este texto numa mera tentativa).
"Sábios eles", pensei comigo mesmo depois de uma construção.

Mesmo sem saber muito como descrever, sou capaz de dizer que é esse tipo de sabedoria que falta aos nossos jovens. Que falta em nossos adultos. Que falta em nossos líderes!
Saber fazer. Saber fazer de fato. Com as mãos na massa. (E, por quê não, as mãos na merda?!)
Saber ouvir. Mas ouvir mesmo! Distinguir sons e silêncios e pausas.
Saber observar. Mirar, reparar! Notar cores e tons. Claro e escuro. Perspectivas...

Essa 'via de duas mãos' é uma troca significativa. Uma troca horizontal que se realiza por um acordo não-verbal.
Só ocorre quando ambos os lados estão abertos, dispostos a oferecer o que têm de melhor.
Não sei se estou sendo claro. Mas a verdade é que ás vezes acho que ofereci pouco em troca pelo tanto que recebi.
Voltei para casa querendo agradecer pela experiência. Por terem aberto meus olhos de uma forma nunca antes experimentada por mim. Por terem oferecido tanto apoio sem que lhes pedisse. Até mesmo por criarem novos laços maternos.
Ao irmos embora, a dona da casa, Cida, disse: "Voltem porque a casa também é de vocês e vocês são como filhos..."

É...sábios eles!

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